terça-feira, 31 de julho de 2007

EDUCAÇÃO: Jovens nas ruas por acesso à universidade

por cleberÚltima modificação 28/06/2006 14:38

No Rio Grande do Sul, juventude de movimentos socias se une na luta por ensino público superior


Daniel Cassol
de Porto Alegre (RS)


A luta pelo acesso à universidade pública levou, nas últimas semanas, centenas de jovens gaúchos a se mobilizar, em Alegrete, Santa Cruz do Sul e Porto Alegre. As manifestações foram organizadas pelo Levante Popular da Juventude, nome dado à primeira experiência de organização conjunta entre setores da juventude de movimentos sociais do campo e da cidade. Inspirados em Ernesto Che Guevara - “a universidade deve se pintar de negro, de mulato, de operário, de camponês” -, os jovens aderiram à manifestação que defendia a proposta de universidade pública e popular. “Não basta que a periferia entre na universidade, é preciso que a periferia dirija a universidade. Não basta a universidade ir para o campo, ela deve ser construída pelo campo”, dizia o material de divulgação elaborado pelo Levante da Juventude. As mobilizações ocorreram dia 6 em Alegrete, dia 8 em Porto Alegre e dia 14 em Santa Cruz do Sul.
Entre reivindicações como cotas étnicas e sociais e melhorias na rede básica do ensino, o Levante da Juventude defende que a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) aumente seu número de vagas e crie unidades no interior do Estado e na periferia de Porto Alegre. “Além de dispor de poucas vagas, a juventude de periferia não tem condições básicas para freentar uma escola. Não tem comida, transporte, casa para morar. Nós estamos aqui para reivindicar a ampliação da universidade e que ela possa ir para onde está o povo, que ela tenha a cara do povo”, explicou Cláudia Camatti, militante do Movimento dos Trabalhadores Desempregados (MTD). “Algumas pessoas dizem que a universidade está afastada da sociedade. Não, a universidade reproduz um tipo de sociedade que é essa, uma sociedade em que poucos dominam a maioria”, argumentou Vicente Ribeiro, da coordenação do Diretório Central dos Estudantes da UFRGS.
De acordo com o Ministério da Educação, em 2003 apenas 9% dos jovens brasileiros de 18 a 24 anos freentavam uma universidade. Para dificultar a situação, as instituições privadas respondiam por 71,8% das vagas oferecidas no ensino superior. No caso da UFRGS, o último vestibular teve mais de 40 mil candidatos, que disputaram pouco mais de quatro mil vagas.

CONSCIENTIZAÇÃO DAS TRIBOS

Partindo dessa realidade e em torno da luta pela universidade pública e popular, o Levante da Juventude conseguiu reunir jovens indígenas, negros, camponeses, integrantes dos movimentos sociais, pastorais e do movimento estudantil tanto universitário quanto secundarista, além de estudantes de escolas públicas, cursinhos populares e grupos culturais da periferia de Porto Alegre.
Gleisa Campigotto, militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), explica que o trabalho de mobilização começou junto aos movimentos organizados, nas escolas públicas de Porto Alegre e nos grupos culturais da periferia. “A maneira que encontramos de chegar aos jovens das periferias foi nas escolas públicas. Nas salas de aula, quando explicamos nossa proposta sobre universidade, eles ficaram bastante empolgados”, diz. Para Gleisa, a juventude hoje se organiza em tribos, e é a partir delas que deve começar a conscientização. O tema da educação, segundo Gleisa, tem um forte potencial mobilizador: “Quando entramos na UFRGS durante a mobilização, vimos que a universidade é um direito nosso. Há uma minoria lá dentro, quase não se vê negros, camponeses nem gente da periferia”.
Militante do MTD, Elenilso Portella aponta outros temas que também mobilizam a juventude: “Depende muito do local. Em alguns lugares, o que mobiliza é a cultura. Em outros, é a educação. Por isso não podemos ter um tema só, mas vários temas centrais, como trabalho, educação, esporte, moradia e lazer e cultura. Essas são as questões mais centrais, que podem unificar a juventude”.
O desafio, porém, é encontrar uma maneira de organizar a juventude para a luta, diz Portella. “A juventude não está desorganizada porque quer, mas porque é alvo do sistema capitalista. O jovem precisa de outra pessoa, gosta de viver em grupos, e aí os movimentos sociais podem entrar, pautando a organização da juventude para lutar”, afirma. Portella também esclarece que os jovens das grandes cidades se identificam com a luta dos movimentos sociais, embora ainda haja uma distância entre se identificar e agir. “É aí que entra a metodologia para fazer a juventude lutar, esse é o grande desafio. Os jovens percebem que estão sendo explorados, percebem as contradições, mas entre perceber e fazer, há uma certa distância”, conclui ele.
As mobilizações foram construídas por dezenas de jovens e por isso tiveram a cara deles. Faixas desenhadas por grafiteiros, gritos e canções de luta próprios da geração, muita música e arte. (Colaborou Raquel Casiraghi)

http://www.brasildefato.com.br/v01/impresso/anteriores/173/nacional/materia.2006-06-28.3434035999


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